sexta-feira, novembro 03, 2006

maldoror

Diga-se em breves linhas como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos, em que viveu feliz; está dito. Reparou depois que tinha nascido mau: fatalidade extraordinária! Ocultou o seu carácter enquanto pôde, durante um grande número de anos; mas, por fim, por causa desta concentração que lhe não era natural, todos os dias o sangue lhe subia à cabeça; até que, não podendo mais suportar tal vida, se atirou resolutamente para a carreira do mal... doce atmosfera! Quem diria que, ao beijar uma criança de rosadas faces, gostaria de lhe arrancar as bochechas à navalha, e que muitas vezes o teria feito, se a Justiça, com seu longo cortejo de castigos, o não tivesse impedido sempre! Não era mentiroso, ele confessava a verdade e dizia-se cruel. Humanos, ouvis? Ele ousa repeti-lo com esta pena que treme! É assim, um poder mais forte que a vontade... É maldição! Quereria a pedra subtrair-se às leis da gravidade? Impossível. Impossível o mal querer aliar-se ao bem. Era o que eu estava a dizer.
Lautréamont.

1 Comments:

Blogger Dayana said...

tão doce e tão macabro!
gostei!!

12:06 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home